Soldados ucranianos encontram vestígios de necrópole grega com 2.600 anos

por Carla Quirino - RTP
Recipiente usado em contextos fúnebres 123ª Brigada de Defesa Territorial da Ucrânia

Militares da 123ª Brigada de Defesa Territorial da Ucrânia estavam a trabalhar em fortificações militares, na região de Mykolayiv, no sul da Ucrânia e encontraram diversos artefactos arqueológicos. Datados dos séc. VI-V a.C., têm origem grega e estão associados a uma antiga necrópole.

Vários recipientes e fragmentos de cerâmica estão entre o espólio que os militares da 123ª Brigada de Defesa Territorial da Ucrânia descobriram durante a construção de áreas defensivas, em Mykolayiv.

Mycola operava uma retro-escavadora e apercebeu-se das cerâmicas. Deu o alerta ao colega de serviço Yevhen, que diz ter um grande interesse em história e foram juntos entregar os artefatos ao Museu Staroflotski Barracks.

Os especialistas do museu analisaram os materiais arqueológicos e confirmaram mais tarde que o pequeno recipiente cerâmico é uma ânfora grega em miniatura de origem jônica. Tem a configuração de um jarro com duas pegas e um gargalo alto.

Este tipo de artefacto era usado para fins rituais e usada em cerimónias de fúnebres em período grego clássico

Entre os outros fragmentos estava também um oinochoe - antigo jarro grego com uma única pega e três bicos -, usado para servir vinho durante reuniões masculinas tradicionais que incluíam banquetes e entretenimento.

Investigadores do museu dirigiram-se de imediato ao local e procederam a escavações arqueológicas. Os trabalhos vieram a revelar que o sítio era um antigo cemitério que remonta aos séculos VI e V antes de Cristo, estando a pequena ânfora e o oinochoe associados à necrópole.

“Esses são objetos rituais feitos especificamente para enterros e trazidos da Grécia”, sublinhou Oleksandr, um ex-arqueólogo e professor da Universidade Nacional Vasyl Sukhomlynskyi Mykolaiv, que agora serve no exército ucraniano. 
Fragmentos cerâmicos | Foto: 123ª Brigada de Defesa Territorial da Ucrânia

Para além destes artefactos terem feito a viagem da antiga Grécia para a costa norte do Mar Negro, “o fato de os vasos estarem intactos e sem marca de uso - sugere que os indivíduos enterrados teriam um alto estatuto social”.

Junto destes artefatos foram também encontrados restos de esqueletos humanos, entretanto entregues a antropólogos. A análise aprofundada dos vestigios osteológicos dará pistas sobre a vida dos habitantes da região de há 2600 anos.

Durante o primeiro milénio a.C., os gregos antigos estabeleceram várias colónias ao longo da costa norte do Mar Negro, perto da atual Ucrânia. Essas colónias negociavam com povos citas, godos e os primeiros eslavos. Alguns destes assentamentos, como Olbia, tornaram-se ricos centros de cultura e comércio.

Fragmentos cerâmicos | Foto: 123ª Brigada de Defesa Territorial da Ucrânia

Ainda antes dos gregos, os micênicos, uma das primeiras culturas marítimas da história, familiarizaram-se com o litoral do Mar Negro. A procura de matérias-primas e recursos naturais como o peixe, seria vital naquela época, tal como é hoje.

Essa presença helénica permaneceu para além do período romano. Após a transição do poder de Roma para Bizâncio, a cultura greco-romana e o cristianismo ortodoxo influenciou a Rus de Kiev, integrando a cultura-mãe da Ucrânia e da Rússia.
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